sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Seminário de Educação Integral e Contextualizada - UNICEF

Participação do aluno da escola do campo Maria Gomes de Oliveira - Tacaratu-PE. 
Jardel Silva, 11 anos, aluno da 5ª série,  fala para mais de 200 professores/as sobre sua aprendizagens na escola e as mudanças na família e na comunidade.

Seminário de Educação Integral e Contextualizada - UNICEF


Aconteceu nos dias 24 e 25 de novembro de 2008 o Seminário de Educação Integral e Contextualizada. Os professores/as, coordenadores/as e gestores/as das escolas de referência marcaram presença e apresentaram algumas de suas experiências.

Alunos das escolas de referência falam sobre suas vivencias


Visitas de Monitoramento em Inajá-PE




Visitas de Monitoramento nas Escolas de Referência

Escola e comunidade local planejam juntas! Uma vez a cada mês as escolas de referência são visitadas pela equipe de monitoramento do Projeto Jovens pela Educação e Convivência com o Semi-Àrido. Nesse dia os professores/as, gestores/as e alunos/as da escola do campo Maria Gaia de Araújo do município de Inajá-PE, mobilizam pais, mâes e líderes locais para planejarem ações de convivência com o semi-árido.

A escola do campo Maria Gomes de Oliveira do município de Tacaratu abre as portas para Comunidade Local!


Nossa Escola Nossa História! Esse foi um dos temas abordados pelos alunos da Escola do Campo Maria Gomes de Oliveira. No dia 21 de novembro de 2008 os alunos mobilizaram seus pais, mães e lideres locais para participarem da devolução das atividades propostas pelos roteiros do Selo UNICEF. Houve a participação de toda comunidade. Os alunos realizaram diversas pesquisas como: Levantamento das frutas e plantas típicas da região, Pionerismo Familiar, Arte Cultura, entre outras.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Aluna faz a diferença em Seminários na Argentina e em São Paulo



A aluna Amanda de Souza Oliveira, 17 anos, do terceiro ano do ensino médio da Escola Anchieta Torres – Tuparetama – PE, participou a convite do Unicef do Seminário de Buenos Aires com gestores públicos e sociedade civil sobre o ensino médio e inclusão.

Amanda fez a diferença entre os 20 estudantes convidados, quando na apresentação que os jovens fizeram, respondendo a pergunta sobre o que mudaria na sua escola, Amanda teve possibilidade de mostrar como na sua escola, as mudanças que estavam sendo sugeridas pelos colegas já eram realidade.

Falou sobre os professores, a sua relação com a comunidade, às famílias e os alunos, de como ensinavam a partir da realidade, como faziam pesquisa, como ensinavam a matemática e o português articulando com sua realidade. Seu comentário impactou e a mesma foi procurada por vários jornalistas presentes ao evento.

Nos dias 12 e 13 de novembro, Amanda foi convidada pelo Unicef para representar a região nordeste, no encontro do Consed, em São Paulo, que reúne os secretários de educação de todos os estados.

Nesse encontro, ela teve oportunidade de falar sobre a chegada da Peads – Proposta Educacional de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável em sua escola, a mudança no currículo, na sua vida e na comunidade. Sugeriu que essa experiência fosse exemplo para outras escolas para facilitar a aprendizagem dos alunos.

Amanda informou ainda que o ensino médio deve ser a base preparatória para a formação cidadã das pessoas e que o vestibular é apenas uma conseqüência dessa base e não a finalidade do curso.

sábado, 15 de novembro de 2008

Que relações de cooperação são possíveis entre a família e a escola?

Visita à horta na Escola Martiniano Gomes Bezerra - Bezerros-PE
Texto de ABDALAZIZ DE MOURA [1 ]

O Serviço de Tecnologia Alternativa – Serta vem desde 1993, tentando aproximar a família da escola e vice-versa. Muita descoberta tem aparecido nessa iniciativa. O objetivo deste texto é partilhar com os leitores as experiências e refletir sobre as mesmas.
1. Uma relação de desconfiança.
Quando o Serta insistia na aproximação da escola com as famílias, numa proposta de Educação do Campo, encontrava uma resistência quase instintiva da parte das professoras. Era comum a professora dizer que os pais não viriam à escola, não atenderiam ao convite. Por trás dessa desconfiança, estava uma prática antiga de a família ser chamada à escola somente em casos de alguma reclamação a respeito do filho ou filha.
Tratava-se de algum comportamento indesejado, que a professora se via sem condição de resolver sozinha; então, chamava a família para reclamar, para cobrar, até mesmo para punir o filho. Essa atitude virou uma cultura, de modo que ser chamado para comparecer à escola já deixava a família de orelha em pé:
- O que houve com meu filho!
- Qual foi a que ele aprontou dessa vez?
Podia não ser nada disso, podia ser diferente, mas, o pai ou mãe já iam inseguros.
Além disso, no meio rural, muitas mães e pais não têm o domínio das letras, da escrita, da oralidade, como a escola tem. Vir discutir algum assunto na escola é como vir em desvantagem:
- As professoras sabem mais, falam melhor, eu lá entendo disso!
Os meios de comunicação, os modos de travar uma conversa, os professores dominam muito melhor que os pais. Também enxergam a escola como se fosse uma autoridade que os convoca para algum puxão de orelhas.
Um bilhete da escola vem carregado de cobrança: nota, comportamento, atraso de pagamento, alguma taxa. Exceção para os dias das mães e dos pais. Nesses dias, eles vêm com gosto, com prazer, pois sabem que vão ser homenageados, que as atenções se voltam para eles, que a escola prepara alguma surpresa agradável com seus filhos para eles. Há um clima, uma ambiência agradável, favorável à presença e ao encontro.
2. Um olhar mais aguçado.
No debate com as professoras, o Serta partia dessa experiência gostosa que é ser convidado para uma festa em sua homenagem. Os pais se aproximam quando percebem que são importantes! Quando sabem que o que lhes espera é algo bom! Distanciam-se quando desconfiam! Não sabem se vão ser chamados à atenção ou se vão ser elogiados! Há três coisas a considerar: a forma de convidar, a finalidade do convite e o papel que se atribui à família.
A forma do convite
Na Proposta de Educação trabalhada pelo Serta, qual é a forma de convidar? Inicialmente, através de uma ampla mobilização dentro e fora da escola, com os alunos participando da redação do convite, com os alunos informados e preparados para o que vai acontecer no encontro, organizando equipes entre os que conhecem a mesma família, para reforçar o convite, ampliando o convite a outras lideranças comunitárias, tais como o Agente Comunitário de Saúde, o dirigente da associação, do sindicato, do clube...
Os estudantes já vão vivenciando uma outra experiência: convidar a família já passa a ser um interesse deles e não só da escola. Já se sentem comprometidos com o resultado da mobilização. A professora aproveita as oportunidades para lembrar o dia, a hora, a confirmar com o aluno se já falaram, se os pais já deram a resposta. Tanto os estudantes como as famílias começam a se sentir valorizados já pela forma de operacionalizar o convite, que uns já reforçam para os demais não faltarem.
A finalidade do convite
A escola, se não é, poderia e deveria ser um centro produtor e difusor de conhecimento. Ela pode se propor a esse fim, mais do que qualquer outra instituição, pela tradição, pela legitimação, pelo reconhecimento, pela capilaridade e presença nas menores comunidades. Como e, principalmente, pelo sistema e rede nos quais se insere.
A escola tem uma atividade diária, consagra o mínimo de quatro horas por dia ao estudo, usa avaliação, é progressiva, é financiada para esse fim. Porém, é fácil reconhecer que a escola não é a única instituição que produz conhecimento.
Qualquer comunidade humana vive produzindo e necessitando de conhecimento. Se essa comunidade é rural ou urbana, da periferia ou do centro da metrópole; se pretende se desenvolver, só vai ser possível se mais conhecimentos forem construídos pelos seus habitantes. Mas não é só de conhecimento que a escola e as comunidades vivem e precisam. Necessitam tanto de valores e de crenças, como também de novas relações pessoais, institucionais e de produção.
No meio rural e no campo, ou as comunidades incorporam, resgatam, assimilam, constroem novos conhecimentos, valores, relações, ou não saem do patamar no qual se encontram. Só que, conhecimentos, valores, relações, muita gente que vive nas comunidades já tem de forma social, prática, o suficiente para sobreviver no seu dia-a-dia. Mas, na nossa sociedade contemporânea, se impôs uma convicção que esse tipo de conhecimento não é importante, nem muito verdadeiro. O conhecimento importante é o científico.
Essa convicção amplia o fosso entre a escola e a comunidade. Na hora em que ambos começarem a entender que os conhecimentos são de diversos tipos e atendem a necessidades diferentes, vão perceber que na comunidade tem quem domine conhecimentos. E que poderiam ensinar na escola, compartilhar num ambiente mais legitimado e reconhecido, os conhecimentos que têm. Quando isso acontece, muda radicalmente a relação entre a escola e as famílias.
A escola vai entender que não sabe ensinar a cozinhar, tomar conta de criança, plantar, cuidar dos animais, manejar o roçado e o criatório, fazer cerca, vacinar os animais, fazer uma feira, dividir o dinheiro do mês, tirar empréstimo, vender, organizar uma associação, preparar uma carne de sol, fazer um queijo, uma manteiga. No entanto, são conhecimentos imprescindíveis que uma comunidade rural precisa ter, entre tantos outros.
Esses conhecimentos, que são considerados práticos, assimilados pela vivência e pelo trabalho no processo de desenvolvimento, precisam elevar seu patamar, precisam chegar a um nível mais técnico, mais científico. Esse, por sua vez, precisa ser dominado amplamente pelas pessoas da comunidade, como acontece com a leitura, a escrita, a matemática e a informática.
Se não houver esse avanço, a comunidade não sai do patamar em que se encontra. Os criatórios dos animais vão ficar sempre em um nível precário, pois os jovens que foram para a escola não trouxeram nada para o avanço dos mesmos. Os filhos se formam, concluem ensino básico e os pais continuam cuidando dos animais do mesmo jeito de quando seus filhos não estavam na escola. Em outras palavras, a escola não trouxe para a família uma contribuição científica, técnica para melhorar o seu rebanho.
Nem valorizou o que as famílias já têm, nem acrescentou o novo que lhes falta. O pai, e a mãe, as lideranças locais estão à margem do processo, como se o papel da escola fosse outra coisa, como se o conhecimento que ela cultiva fosse de outra ordem e natureza, como se fosse para outro público. Os filhos são preparados para abandonar essa família, ir para a cidade, manejar outros conhecimentos, cuidar de outros valores e relações. Essa família está condenada a manter-se no campo, sobreviver só com os conhecimentos já incorporados ao senso comum!
Evidente que, com esse pressuposto, a parceria entre a família e a escola não acontece. Pois, o que está por trás, é o resquício, alimentado pela cultura, de uma relação entre o ignorante e o sabido, onde ambas aceitam os papéis tradicionalmente atribuídos pela sociedade, a uma e a outra. Uma domina o saber científico e técnico (e assim mesmo, com muitas reservas!) e a outra, o saber prático. Ambas estão bem no lugar e no papel que exercem.
O papel que se atribuem a escola e a família
Se esses papéis são para permanecer, nem adianta falar de cooperação entre escola e família, porque ela já está contaminada e viciada. Já vem com vírus e pode estragar. Uma já vai se apresentar melhor do que a outra, com mais autoridade de uma sobre a outra, uma avaliando a outra, uma sendo sujeito e outra sendo objeto, uma conduzindo o processo e outra se adaptando. São relações de subordinação e não de cooperação.
3. Construindo novas relações.
As comunidades são como as pessoas: elas precisam evoluir, se manter e se perpetuar. Para isso, elas se apropriam do patrimônio construído pela sociedade. As formas de apropriação e o nível variam muito de lugar para lugar. Mas não se pode negar que as comunidades precisam cada vez mais de usar conhecimentos e cultivar valores e relações. Não podemos aceitar a idéia de que o filho chegou à universidade e a propriedade da família não tenha saído do fundamental I.
Podemos imaginar então, um centro produtor e difusor desses conhecimentos e valores: é a escola interagindo com as famílias. Os alunos participando da construção de conhecimentos úteis para melhorar a sua propriedade e o ganho de sua família, onde o nível de aproveitamento dos recursos da propriedade se amplia na medida em que o filho avança na escola.
Se não acontecer assim, para que serve o conhecimento? Se ele não repercute nas casas, se não traz conseqüência, se não é útil aqui e agora, se não melhora a vida, o meio ambiente, a natureza, os animais, a vegetação, a água, a cidadania, o direito, a política, então, para que serve? Se servir para a vida, a escola passa a exercer a função de um grande laboratório, aberto à participação dos mais diversos autores, atores e agentes sociais, aos técnicos da saúde, da agricultura, às lideranças, aos pais e mães de alunos.
Torna-se uma Escola Aberta não só nos finais de semana, não só com suas instalações, quadra de esporte e laboratório de informática, e sim com o seu Projeto Político Pedagógico. Os pais passam a se sentir membros da escola, mesmo que não estejam no EJA, e sim por que interagem diretamente com seus filhos na propriedade. Os professores circulam nas propriedades e os familiares circulam nas escolas, numa relação de parceria, de intercâmbio, de troca de conhecimentos, experiências.
A escola passa a pulsar com as demandas e necessidades da comunidade e vice-versa. Estou escrevendo este artigo na mesma semana que estão passando pelas minhas mãos alguns projetos dos municípios para concorrer ao Selo Unicef. É gratificante perceber que as escolas vivenciaram, experimentaram o sabor de uma escola pulsando com a comunidade. Seu desafio vai ser incorporar essa oportunidade como o dia-a-dia da escola, como Projeto Político Pedagógico e não só para concorrer ao selo.
4. Concluindo.
Escolas com essa relação com a comunidade existem, tem nome e endereço. As que usam a Peads – Proposta Educacional de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável, criada pelo Serviço de Tecnologia Alternativa – Serta. Dez dessas escolas, no Estado de Pernambuco, estão vivenciando um processo de formação e capacitação, onde participam familiares, gestores, educadores e alunos e todos se envolvem nas práticas e conhecimentos úteis para as famílias.
Esse trabalho articula-se com o Centro Tecnológico da Agricultura Familiar - CTAF, com sede em Glória do Goitá (Zona da Mata) e Ibimirim (Semi-árido), nas quais os sujeitos sociais recebem a primeira formação de dois dias; a partir daí, as formações na escola passam a contar sempre com alunos, familiares e educadores. O UNICEf está patrocinando esse projeto, com uma rede de dez escolas, em dez municípios, e a Fundação Kellogg apóia a rede em mais dez escolas de dois municípios.
Pais e mães foram convocados a participar pelas suas qualidades, seus valores e seus saberes. As relações com a escola não são mais as mesmas, em casa, a relação com os filhos que estudam mudou, discutem e fazem juntos as ações discutidas na escola e na propriedade.

BIBLIOGRAFIA

MOURA, Abdalaziz de. Princípios e Fundamentos da Proposta Educacional de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável, uma proposta que revoluciona o papel da escola diante das pessoas, da sociedade e do mundo. Segunda Edição. Recife. 2003
MOURA, Abdalaziz de, VICENTE, Ilza André, SILVA, Socorro, MARIA, Iramaí (org.) Múltiplos Olhares de uma Caminhada Pedagógica: A Proposta Educacional de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável – Peads. Recife. 2006.
MOC, SERTA, UEFS. Educação Rural, Sustentabilidade do Campo. Feira de Santana, BA – 2003.
CEE e MEC. Diretrizes Curriculares para a Educação Básica nas Escolas do Campo. BSB. 2002.
DAMASCENO, Maria Nobre. A Construção do Saber Social pelo Camponês na sua Prática Produtiva e Política. In Sociedade Civil e Educação. Campinas, Papirus, 1991. p.35-56.

[1]ABDALAZIZ DE MOURA é presidente do Serviço de Tecnologia Alternativa – Serta
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